1 de mar. de 2016

“Bem-vindo ao Uíge”. Esta é a saudação
cordial para quem chega às terras do café. Na
semana passada, esta província estendida
numa área de quase 59 mil quilómetros
quadrados (58 698 km²), completou 97 anos
desde que foi elevada à categoria de cidade
pelo capitão Manuel José Pereira e pelo
alferes Tomaz Berberan.
Até à conclusão do Censo, não se sabe ao
certo a sua população, variando entre 500 mil
a 1,2 milhões de habitantes, segundo diversas
fontes. Uma projecção do Instituto Nacional
de Estatística, publicada em Fevereiro de
2012, estimava 1,02 milhões de habitantes
para 2014.
O nome da província deriva da localidade do
Uíge, onde foi fundado um posto militar pelos
portugueses em 1917, que viria a ser a sede
da circunscrição do Bembe a partir de 1923 e
posteriormente sede do concelho do mesmo
nome. O nome parece vir da expressão de
língua kikongo “wizidi” que significa
“chegada”, em alusão aos primeiros
portugueses que se fixaram na região, que já
tinha sido dado ao rio e que daí terá vindo o
nome.
O local viria a ganhar importância progressiva
passando a vila em 1934, e mais tarde a
capital da província do Congo, criada em 4 de
Julho de 1946, para mais tarde ver o seu
nome mudado para Vila Marechal Carmona e,
depois ser elevada à categoria de cidade em
1956, a Carmona, simplesmente.
A população do Uíge é geralmente conotada
com a comunidade etnolinguística dos
Bakongo ou, segundo a terminologia usada
pelo Ministério da Cultura, com a área
sociocultural Kongo. Embora os traços
identitários da comunidade sejam marcantes,
encontra-se um outro nível de identidades,
linguísticas (no que respeita ao sotaque, por
exemplo) ou de outra natureza (ligadas à
história, ao parentesco, aos usos e costumes,
entre outras), que permitem estabelecer
subdivisões.
Por altura da proclamação da independência
a província estava sob controlo das forças
militares da FNLA e o Governo do MPLA,
actual partido no poder, só assumiu a sua
administração em Janeiro de 1976. Durante a
transição para a independência, a economia
da região foi muito afectada com reflexos na
estrutura de produção e comercialização de
café e de outros produtos agrícolas, tais como
a mandioca, a banana, o feijão, o amendoim e
o óleo de palma, devido à fuga dos
fazendeiros e dos comerciantes.
Durante a guerra civil que durou cerca de três
décadas, a província foi muito afectada. Os
serviços do Estado e o comércio ficaram
praticamente paralisados. A perda de animais
e a destruição de infra-estruturas provocaram
um aumento ainda mais significativo dos
níveis de pobreza.
Quase um século passado, o Uíge vai, aos
poucos, se despindo das marcas de um
passado doloroso. A vida nesta parcela toma
outros rumos. Sem pressa, a sua população
acredita em dias melhores. Assim como o
mais-velho Simão Buila, que diz ter nascido
aqui e aqui espera igualmente morrer.
Aos 79 anos, o ancião diz ter acompanhado
todas as fases desta terra que lhe enche de
orgulho. Antigo combatente das extintas
FAPLAS, Simão Buila recorda com lágrimas
nos olhos o quanto custou a liberdade e a
paz. “Foi duro. Vi a minha mulher e dois
filhos a serem massacrados durante a guerra.
Não tínhamos comida, nem água. Não
tínhamos nada. Ninguém ficava na rua, [às]
18horas a cidade já estava vazia. As
populações se escondiam dentro de casa para
não serem mortas. Foram momentos tristes”.
Todavia, os tempos que o mais-velho Simão
se refere já lá se foram. Para a frente,
apresentam-se os desafios de uma província
que se quer afirmar para lá do café. Diferente
de outras partes do país, aqui o clima está
sempre frio. O sol, também chega muito mais
tarde, por volta das 9h00, altura em que a
função pública começa a trabalhar.
. Ao dobrar de cada esquina, há pequenas
lojas, restaurantes, hotéis, pensões entre
outras infra-estruturas que dão vida a cidade
do “bago vermelho”. A Praça da
Independência e a do governo provincial são
os locais favoritos dos citadinos quando
querem meter a conversa em dia ou namorar.
O largo que fica adjacente à Radio Nacional
também já foi usado para este fim, mas
devido ao estado de abandono em que se
encontra, a população evita agora lá ir.
Nas ruas, logo pela manhã, vêem-se agentes
da Polícia Nacional que, trajados nas suas
habituais fardas azuis, regulam o trânsito.
Aqui, o multiculturalismo é um facto.
Cidadãos oestes-africanos, congoleses,
portugueses e chineses vieram engrossar a
vida da província.
Embora vão surgindo novos edifícios que aos
poucos estão a mudar o rosto velho da
cidade, os antigos ainda continuam a ser o
cartão postal da província. Até há bem pouco
tempo, o abastecimento de energia eléctrica
era feito por grupos de geradores com uma
capacidade faseada de apenas cinco horas
por dia. Nos últimos tempos foram
construídas a linha de transporte, as
subestações de transformação e
armazenamento, as redes de distribuição
pública e domiciliária da energia de Capanda
para fornecer energia às cidades do Uíge,
Negage e Maquela do Zombo. Está em curso a
elevação da capacidade de produção de
energia eléctrica para 47 Megawatts.
A locomoção dentro e fora da cidade deixou
de ser um problema. A todo lado e a toda
hora, viaturas ligeiras e motorizadas de duas
rodas transportam populares de um lado para
outro com serviços de táxi que custam Kz 100
por corrida. Este tipo de actividade tem sido o
ganha-pão de muitos jovens, já que o empego
por estas bandas é extremamente difícil de
encontrar.
Mananga Luís é um destes jovens que
encontrou na actividade de moto-taxista o
único jeito de ganhar a vida. Aos 27 anos, o
jovem afirma nunca ter feito outra coisa.
“Os que conseguem emprego, na sua maioria,
são filhos de pessoas que trabalham na
função pública. Nós que não temos padrinho
na cozinha não conseguimos nada. Aqui a
vida não é fácil, meu irmão. É muito difícil.
Por isso é que muitos jovens emigram para
Luanda”, desabafou o jovem.
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#Sector social
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O surgimento de algumas infra-estruturas
sociais está, aos poucos, a transformar a terra
do café. Tal como reconhece o governador
Paulo Pombolo, “a província ainda tem muitos
caminhos para percorrer, mas as mudanças de
uma vida melhor estão cada vez mais
visíveis”. O novo aeroporto é um destes
projectos que poderá elevar a província para
outros patamares. Baptizado com o nome de
Manuel Quarta Punza, a infraestrutura
aeroportuária está equipada com torre de
controlo, equipamentos de apoio à navegação,
uma pista com 2300 metros de comprimento
e 45 metros de largura, com capacidade para
receber aviões do tipo Boeing 737-700, e um
terminal com 4600 metros quadrados.
Outra obra de vulto que está a nascer na
província é a centralidade de Quilomoço que
poderá  aliviar um pouco a pressão no sector
habitacional, onde as necessidades ainda são
muitas, principalmente para as populações do
interior que continuam a viver em situação
lastimável
Durante a visita a Quilomoço, o Rede Angola
soube do estado actual do projecto cuja
conclusão está prevista para o final de 2015.
Das 4.500 habitações projectadas, já estão
concluídas 1.010, todas de tipologia T3, neste
momento, ainda desabitadas. Está também
projectada uma segunda centralidade para o
município de Negage, onde vão ser
construídos 2.500 apartamentos.
O sector da saúde ainda enfrenta
constrangimentos. Quando as obras no
Hospital Municipal do Uíge acabarem poderá
melhorar um pouco, principalmente para as
populações dos bairros Candombe Novo, Bem-
Vindo, Mongualhema, Mbanza Polo,
Quimacungo, Tomessa, Capote, Pedreira e
Cacole.
Também estão em construção os hospitais
municipais de Ambuíla, Bembe, Cangola e
Milunga. Existem ainda dois projectos para
construir os hospitais dos municípios de
Maquela do Zombo e Quimbele.
No que toca à Educação, a nossa reportagem
soube que o número de crianças fora do
sistema de ensino ainda é elevado.
Principalmente nas zonas mais afastadas da
capital provincial. O sistema de ensino geral
tem 399.000 alunos inscritos e cerca de
14.000 professores distribuídos pelas 31
comunas e 16 municípios. No que toca ao
ensino médio, a província conta com alguns
estabelecimentos de referências como são os
casos do Instituto Médio Politécnico Manuel
Quarta Punza, Instituto Médio de
Administração e Gestão do Kituma, Instituto
MédioPolitécnico do Uíge e Instituto Médio de
Saúde. Já a rede universitária é suportada por
um pólo do Instituto de Ciências da Educação
(ISCED) e a Universidade Kimpa Vita.
De olho na produção local
Paulo Pombolo quer ver a classe empresarial
a dar o seu contributo para fortalecer o tecido
industrial da província. Já há intercâmbio
com investidores que têm recursos financeiros
e estão interessados em desenvolver projectos
na província, como é o caso de uma unidade
de produção de água mineral, o projecto
agropecuário do Dala, uma fábrica de tijolos,
uma fábrica de colchões de espuma que já
funcionam no Pólo Industrial do Negage.
Estão ainda em curso os projectos do
Lusselua, em Sanza Pombo, de produção de
arroz; a Agricultiva, que, entre vários produtos
alimentares, coloca mais de 12 mil ovos
diariamente no mercado local, contribuindo
para a redução dos preços. Existem também
cooperativas agrícolas que estão a desbravar
grandes extensões de terras para cultivar
produtos agrícolas que podem suportar a
agro-indústria nos próximos tempos e
contribuir para o programa de combate à
pobreza.

@fonte #redANGOLA

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